Professores do Ensino Fundamental e o ensino remoto

Professores do Ensino Fundamental e o ensino remoto

Imagens traz pessoas conversando ao redor de uma mesa, com um notebook na frente deles. A imagem foi usada para ilustrar a experiência dos professores do ensino fundamental com o ensino fundamental.

Com o isolamento social, as escolas estão desenvolvendo novas formas de ensinar. A opção que automaticamente vem à cabeça são as aulas online e videochamadas, que tem substituído a aula presencial neste momento pandêmico. Mas será que elas são suficientes? Será que as necessidades dos alunos estão sendo atendidas? Do que eles realmente precisam nesse momento? Alguns dos nossos professores do Ensino Fundamental contaram como tem sido a experiência. Eles compartilharam suas estratégias para auxiliar os alunos nesse momento.

Árgelia Bastos, professora de Matemática:

Apesar de toda essa situação limitadora, não percebi resistência por parte dos alunos. Pelo contrário, tenho percebido uma maior interação no quesito tirar dúvidas. Eles têm sido menos tímidos e tiram bastantes dúvidas. Apesar de uma modelagem nova, tem dado mais certo do que errado. Um ponto de atenção, que independe dos envolvidos (alunos, professores e escola), é a instabilidade da conexão da internet que dificulta o processo. No mais, tem sido muito bacana a “nova” roupagem por ter diversas formas de abordar os conteúdos.

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Uma das estratégias que tenho usado é o feedback individual dos erros cometidos em algumas questões. Com essa estratégia, os tímidos têm tido a chance de perguntar e tirar dúvidas sem sentir vergonha dos colegas. A contribuição familiar também é essencial. Sempre me comunico com os pais para saber porque o aluno não fez a atividade ou não esteve presente na aula. Existe um tempero que a gente esquece de usar: empatia, nesse momento é essencial e tem me ajudado a colher bons resultados com os alunos.

Deborah Monte, professora de Matemática:

A carga emocional tem sido um fator importante. Por isso, outras atividades além da explicação do conteúdo são necessárias: preciso oferecer um acolhimento muito maior, coisa que não acontecia antes da pandemia. Tenho usado o Google Meet para ensinar. Além disso, as aulas têm sido mais curtas, e os alunos têm interagido via chat e por microfone respondendo as questões expostas.

Tem sido difícil para alguns estudantes manter um certo planejamento, por isso chegam atrasados e costumam estar com muito sono. Percebi que sentem muita falta do presencial, de estar perto de pessoas. Então, no início da aula me manifesto sobre estar sentindo falta do contato de todos e peço que liguem a câmera e o microfone para gente interagir um pouco e dar aquele calorzinho no coração. Além disso, tenho lido e refletido sobre trechos de poesia junto com eles, incentivando a gratidão as coisas pequenas, como abrigo e alimentação nesse momento de pandemia.

Luã Rodrigues, professor de História, Filosofia e Sociologia:

Tem sido uma boa experiência, superando as expectativas. Achei que seria mais problemático em diversos aspectos, como o processo de aprendizagem que seria dificultado pela distância; o comportamento dos alunos que estaria instável nesse momento; o tempo das aulas que não seria suficiente, além do medo da aula ser monótona e chata. Mas ao contrário, os alunos têm participado mais do que em sala de aula. Eles estão conseguindo entender o conteúdo e os percebo bem atentos e disciplinados. O tempo das aulas também não tem sido um problema. Além disso, as atividades planejadas foram feitas, e um ponto positivo é o envio de arquivos diversificados, como vídeos e leituras extras, além do uso da plataforma para tirar dúvidas. Todo sentem muita falta do contato com os colegas, então entram na sala antes de mim e usam um tempinho para conversar e se atualizar.

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Poliana Ramalho, professora de Língua Portuguesa:

Trabalhar com o Ensino Fundamental, normalmente, já é muito desafiador: são crianças descobrindo o conhecimento, e isso, se não for muito bem feito, pode assustar. Na quarentena o desafio se torna muito maior, porque tentamos manter eles ligados em nossas aulas mas sem saber o que estão fazendo em casa, lá do outro lado da tela. Então o professor tem duas escolhas: ou entregar na mão do aluno a responsabilidade de estudar ou ficar parado no tempo e no espaço sem acompanhar essa revolução.

Nas aulas remotas temos então a possibilidade de colocar em prática uma ideia que é tão sonhada na educação: o protagonismo do aluno. Então assim, tenho buscado pôr isso em prática nas minhas aulas, sem perder de vista o conhecimento técnico da língua portuguesa, por isso tenho deixado que eles aflorem a criatividade junto desse protagonismo.

É um momento que causa muito estranhamento na gente, porque temos essa ideia do controle, não é?! Quem passou a vida estudando dentro de uma sala de aula pós-ditadura civil militar conseguiu ver que a estrutura dentro da sala de aula não mudava. Esse momento me faz lembrar de uma música que fala “e nem me colocando numa jaula, porque sala de aula essa jaula vai virar”, então vendo pelo ponto de vista mais romântico, a gente tem aprendido que a sala de aula é só mais um dos recursos que eles têm utilizado para aprender. Nesse momento vai ficar cada vez mais claro o papel do professor, que é direcionar. Estou dia após dias dando um direcionamento para os estudantes São eles que tem buscado o conhecimento. A prática mudou, o conteúdo não. Acredito que o mais importante agora é esse esclarecimento do papel do professor.

Fernanda Freire, professora de Biologia:

Uma coisa que percebi é que eles estão muito empolgados com a volta das aulas, até alunos que eram mais apáticos estão participando mais ativamente. Estamos fazendo um momento de escuta sobre o momento atual. Para isso, perguntei como estão se sentindo. Alguns falaram que estão com parentes doentes, parentes de outros faleceram, então eu consigo sentir todos muito apreensivos. Por ser professora de Biologia muitos me perguntam sobre a Covid-19 tentando esclarecer dúvidas. Afinal, todos estão muito receosos e falando muito sobre o assunto. Esse é um papel importante do professor nesse momento, escutar e compreendê-los.

Ainda estamos nos adaptando a nova plataforma, muitos ainda precisam da ajuda dos pais, mas aos poucos estão conseguindo uma independência maior. Nesse momento de adaptação algumas coisas dão certo e outras errado, por exemplo: todos gostam de falar muito, de participar e discutir, mas na sala de aula virtual fica um pouco mais difícil todos falando ao mesmo tempo, por isso temos trabalhado muito o respeito a fala do outro, ligamos o microfone só na hora de falar e tenho usado uma “inscrição”. Funciona assim: quem quiser falar ou levanta o dedo (se a câmera estiver ligada) ou começa uma lista com o seu nome e os que quiserem falar depois também vão adicionando. Com isso, alguns alunos que nunca esperavam sua vez de falar em sala de aula estão tendo que esperar, isso tem sido muito interessante de ver.

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Quer construir uma sequência didática à distância? Separamos dicas para te ajudar.

A partir da leitura dos relatos conseguimos chegar a algumas conclusões: esse pode ser um bom momento para inovar, hora de pensar em novos modos e novas ferramentas de ensino. Além disso, a aula precisa continuar dinâmica e com participação dos alunos mesmo de longe, usando de ferramentas interativas que podem auxiliar nesse momento.

Não podemos deixar de perceber o papel fundamental que os professores estão tendo nessa mediação do ensino remoto. Portanto, formá-los para estarem cada vez mais preparados para lidar com o digital é essencial. Afinal de contas, o protagonismo estudantil nos dias de hoje passa pelo uso da tecnologia. Quer ler mais sobre o assunto? Clique aqui.

Por fim, o mais adequado nesse momento pandêmico é se mostrar disponível para ouvir os sentimentos e angústias quando necessário, todos estão sendo muito afetados nesse momento, mostrar empatia é essencial.

Imagem traz a foto da Lara Cecília, auxiliar de Conteúdo do Desenrolado, que reuniu o depoimento dos professores do ensino fundamental.