Professores são super-heróis?

Professores são super-heróis?

Na imagem, há uma ilustração de uma professora vestida de super-heroína para representar a discussão sobre a narrativa que muitas vezes se constrói sobre os professores.

É bem comum ouvirmos e reproduzirmos a narrativa de que professores e professoras são heróis e heroínas. No 15 de outubro então, nem se fala, são diversas as mensagens e presentes com esse discurso. Por um lado, esses gestos de reconhecimento são importantes. O problema é quando eles se limitam a esse único dia do ano.

Em uma pesquisa feita com 5 mil professores, 87% apontaram que seus problemas de saúde são ocasionados ou agravados pela profissão. Isso em um país que lidera o ranking mundial de violência contra professores já há alguns anos. E que, além disso, possui uma das piores médias de salário para esses profissionais, segundo a OCDE.

Saúde mental e física são impactadas por condições problemáticas de trabalho e isso, certamente, impacta na qualidade do ensino. Os resultados do Brasil no PISA nos colocaram entre os piores do mundo, mais um dado alarmante e vergonhoso para um país que gerou mentes brilhantes como Paulo Freire e Anísio Teixeira. Como podemos querer, enquanto sociedade, uma educação melhor se tratamos tão mal os profissionais que atuam nessa área? Para mudar esse cenário, precisamos de maior vontade política e atenção, por parte de gestores e de governantes, em, principalmente, três pontos.

Passos fundamentais

É fundamental promover a valorização de professores e professoras através de melhorias na remuneração. Isso precisa se materializar em salários melhores e planos de carreira. Além do respeito a remuneração pela carga de trabalho que esses profissionais levam para casa. Na pandemia, o ensino remoto se fez necessário para todos os envolvidos na educação. Com isso, a carga de trabalho de professores e professoras aumentou sem o salário acompanhar esse crescimento. É preciso concretizar a valorização de profissionais da educação principalmente em momentos como esses. Agindo dessa maneira para que não se gere maior adoecimento, precarização e piores resultados na aprendizagem dos alunos.

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Também é preciso dar centralidade a formação continuada. Capacitar professores e professoras é fundamental. É necessário estes e estas possam lidar com seus diversos desafios. Assim, a formação deve ser uma prerrogativa de toda instituição de ensino. Trabalhar com inclusão e acessibilidade, entender melhor as tecnologias digitais, fazer uso de novas metodologias de ensino, tudo isso é imprescindível para um educador. E só é possível atender a essas demandas com a devida oferta de qualificação profissional.

Em pesquisa, 83% dos professores colocaram que se sentem despreparados para dar aulas online. Em um cenário de ensino remoto ocasionado pela pandemia, isso se tornou um grande problema, que deveria ter sido enfrentado com um maior esforço e com maiores investimentos em formações e treinamentos.

O que podemos concluir?

Por último, é imprescindível garantir condições e estrutura de trabalho para que educadores e educadoras possam exercer seu papel da melhor forma. A pandemia escancarou desigualdades e mostrou as dificuldades existentes para garantir o acesso a educação para todos. Muitos professores tiveram que pagar a conta dos equipamentos e dos custos para viabilizar o ensino remoto, mesmo com toda a carga excessiva de trabalho e com a cobrança pelos resultados junto aos alunos.

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Realmente, é preciso ser um herói em um cenário como esse para conseguir encarar tantos desafios. A grande questão é: professores não são heróis. Professores são trabalhadores. Pessoas com direitos, famílias e desejos. Profissionais que causam um impacto gigantesco na vida de seus alunos e que, por conta disso, deveriam receber maior reconhecimento e valorização. É preciso um esforço da sociedade para mudar esse cenário e fazer com que, durante o ano letivo, todo dia seja dia do professor.

A imagem traz a foto de quem escreveu o artigo. Ao lado, os dizeres "Bruno Costa - Coordenador de Conteúdo"