“Ser artista no nosso convívio”, já dizia Cazuza em outros tempos. O ano de 2020 veio nos colocar à prova em muitas situações, não foi verdade? Após um decreto, um isolamento forçado, porém necessário, foi preciso nos reinventar, reconhecer e usar a nossa criatividade em diferentes campos. Nós, que tínhamos um calendário pronto para ser executado, tivemos que nos reprogramar para uma nova realidade que se apresentava. Dessa maneira, aos poucos fomos nos readaptando. Apesar da internet ter sido a saída para muitas questões, outras discussões sobre seu uso vieram à tona. Uma delas é: como criar um ambiente digitalmente mais saudável?
Mas, como foi que, na prática, tudo isso aconteceu? De que forma nos tornamos capazes de articular os diversos elementos e recursos que nos foram apresentados? E, assim, possibilitando manter nosso convívio e promover a continuidade do processo ensino/ aprendizagem? Afinal, estávamos todos tentando sobreviver as inúmeras informações para não naufragarmos em meio a pandemia que tomava conta de todos nós. Éramos principiantes, marinheiros de uma primeira viagem. Porém, após quase seis meses de atividades remotas, acredito que estamos conseguindo atravessar muitas tempestades e que reunimos uma boa bagagem para lidar com dificuldades futuras.
A produtividade
Quando a Monalisa me convidou para escrever esta matéria, topei de imediato. Achei a proposta legal e gostei do seu objetivo. A pergunta “como tornar o ambiente digitalmente mais saudável” me foi lançada e, quase que instantaneamente, passei a pensar em tópicos para o tema em questão. Todavia, quando cheguei no meu atual ambiente de trabalho, também conhecido como a minha sala de jantar, não consegui escrever nada além das ideias que já havia rabiscado em um bloco de notas.
Ainda assim, insisti. Confesso que demorei para aceitar que não estava fluindo e que a cabeça não estava conseguindo conciliar tantos assuntos ao mesmo tempo. Parei e decidi tirar um dia de folga… E cá estamos lendo este conteúdo.
A princípio, me pareceu simples e prático produzir. No entanto, não é bem assim que funciona, ou, talvez melhor dizendo, não é bem assim que a gente funciona todas as horas e em todos os dias. É falho acreditar que constantemente somos 100% produtivos. E foi pensando no meu ato de escrever que resolvi dividir este conteúdo nos tópicos abaixo.
O tempo
Gerenciar o tempo se tornou o nosso maior desafio. Imagino que alguém, assim, como eu, em algum (ou vários momentos) precisou dedicar um tempo muito maior do que o previsto para a utilizar a internet, de uma ótica positiva, facilitadora do trabalho, estou certa?
Em tempos de recolhimento e atividades remotas, fazer uso maior do espaço virtual se tornou útil, comum, corriqueiro até. Porém, precisamos atentar para o que estamos consumindo e usufruindo. Seja para pesquisas de trabalho como para o uso particular, faz-se necessário estabelecer limites, para não cairmos em armadilhas ou adquirir determinados vícios, que possam absorver um tempo muito maior do que aquele que realmente temos. Manter um ambiente digitalmente saudável é fazer uso positivo e balanceado dos diferentes ambientes e diversificar os assuntos. Bem como também se ausentar deles.
Quando falamos de tempo, associamos rapidamente a rotina. O psicanalista Christian Dunker, em diversas entrevistas concedidas durante este período, afirmou como a manutenção de uma rotina auxilia na organização psíquica, que, por sua vez, permite a estruturação de um ambiente (físico e/ou virtual) mais saudável.
Os aprendizados
Para começar, talvez teria sido melhor nomear este tópico com as “tentativas” de aprendizagem. Mas, ao mesmo tempo, compreendo aqui as “tentativas” como sinônimo de aprendizados. Logo no início do texto foi citei as bagagens de experiências. Nelas, reunimos os novos elementos da tecnologia e avanço em todo processo facilitador no trabalho realizado neste momento de atividades remotas, incluindo tudo aquilo que escapa ao planejamento e as várias interferências que muito nos ensinam sobre flexibilizar.
Assim, destaco a importância de novos olhares sobre o nosso cotidiano. Dar um sentido especial, ressignificar o que estamos vivendo e aprendemos, valorizar os aspectos que nos fazem crescer tanto no campo pessoal, afetivo e profissional. Ainda que virtualmente, o ato de educar está acontecendo e precisamos celebrar nossas conquistas.
Uma boa comunicação
Outro aspecto para tratarmos é a boa comunicação. Nestes tempos em que passamos horas e mais horas conectados, se torna fundamental firmar alguns acordos com os grupos de socialização. Sinalizar, por exemplo, em quais momentos estará disponível e poderá responderas mensagens, para não criar situações de descaso ou indiferença com os participantes do grupo. Não deixa também de ser uma forma de cordialidade e respeito ao outro.
De repente, passamos a ficar 24h disponíveis, já que o espaço virtual se tornou o espaço de interação, decisões e socialização. Mas até onde precisa ser exatamente assim? Se pararmos para pensar com racionalidade, compreendemos a importância do gerenciar o tempo e espaço, mas sem ferir as responsabilidades.
Promover trocas afetivas, ainda que em um ambiente virtual, permite oferecer um maior pertencimento ao espaço que se utiliza. Vou citar alguns exemplos: em reuniões de equipe, promover momentos para socialização que se possa ir além das demandas profissionais. Ou, em sala de aula, buscar uma comunicação mais individualizada possível com o educando. Isso promove a confiança na relação professor/aluno, mesmo que isso venha significar um adiamento de determinado conteúdo. Tais atitudes de boa comunicação promovem empatia e acolhimento, gerando um ambiente digitalmente mais saudável para estar e interagir.
Cuidados com a saúde mental
Em setembro, diversos espaços dão visibilidade a campanha Setembro Amarelo e discutem sobre a necessidade dos cuidados em torno da saúde mental. Todavia, este ano nos alertou, de forma mais enfática, para que cuidado aconteça de modo constante. Através do recolhimento social, a saúde biológica teve maior chance de ser mantida. No entanto, nessa experiência, foi possível constatar como a saúde mental é indispensável para suportamos mudanças, anseios e incertezas.
Sendo assim, seja através de práticas de autocuidados inseridas na rotina como através da busca por escuta profissional, a nossa saúde mental necessita ser priorizada diariamente.
Para encerrar, utilizo outro verso de Cazuza, desta vez, pedindo licença para parafrasear e, com isso, frisar o compromisso que acredito que devemos ter em apreciar as práticas de “transformar os desafios da rotina em melodia”.