O uso das novas tecnologias têm ganhado muito espaço na educação. Mas além de serem utilizados na hora dos estudos, recursos digitais também estão sendo usados como ferramentas de avaliação. No Brasil, o exemplo mais recente é a versão do Exame Nacional do Ensino Médio, o ENEM Digital. A prova nessa modalidade teve sua primeira aplicação na edição de 2020, que aconteceu nos dias 31 de janeiro e 07 de fevereiro de 2021. Segundo o Ministério da Educação, a perspectiva é que, a partir de 2026, a prova aconteça de maneira 100% digital. Mas o quanto a educação está preparada para avaliações digitais?
Apesar do piloto ter acontecido somente esse ano, avaliações que acontecem de maneira digital não são novidades. Na Dinamarca, por exemplo, desde 1994 os alunos do Ensino Médio podem fazer o vestibular (“Studentereksamen”) utilizando computadores. Os EUA também possuem avaliações no formato digital, apesar de encontrarem maiores dificuldades de infraestrutura para uma aplicação satisfatória em comparação ao outro país.
Desse modo, com a expansão do mundo digital, instituições de ensino veem-se cercadas pela urgência de trazerem para o dia a dia dos estudantes as habilidades necessárias para uma vivência dessa realidade.
Entretanto, é importante notar que esse caminho precisa ser uma via de mão dupla. Afinal, não adianta investir em avaliações super tecnológicas, se na prática o estudante não aprende mais sobre linguagens e ferramentas digitais, além de não refletirem de maneira crítica sobre o uso das novas tecnologias.
Linguagens digitais: o que os alunos compreendem?
É comum acharmos que os jovens já dominam o mundo digital pela facilidade que a maioria tem na hora de navegar em plataformas e aplicativos. Mas, na verdade, o uso consciente do digital é um conjunto de outras habilidades que precisam ser trabalhadas ao longo de suas vidas.
No ENEM Digital, a perspectiva é que as questões possam trabalhar outros recursos, como vídeos, jogos e infográficos. Mas para que esse tipo de formato possa ser compreendido, o ensino precisa passar a contemplá-los. Não somente deixando disponível, mas tornando-os ativamente parte do dia a dia dos alunos.
Habilidades como interpretação, reflexão crítica, leitura continuam sendo importantes e, com esses recursos, ganham um “plus”.
Na leitura, os estudantes precisam compreender outros tipos de textos que nascem junto com a Internet e as Tecnologias de Informação e Comunicação. Isso significa lidar com uma diversidade de formas de expressão novas e antigas. Por exemplo, as notícias continuam sendo um tipo de produção textual relevante para o aprendizado do estudante. Mas, no mundo online, nascem outras variáveis, como fake news, leitura apenas dos títulos e leituras de datas de publicação.
Além disso, pesquisas já revelaram a dificuldade que os estudantes têm para interpretar na Internet. Com a quantidade de informações que circulam diariamente, essa habilidade que já era importante, ganhou um local de destaque. Mas, assim como na leitura, é preciso levar a interpretação a outros tipos de expressões, comunicações, textos, etc. E, isso só acontece quando o ensino aborda essas possibilidades.
Afinal, como se interpreta um vídeo? Esse é um exemplo de linguagem que se popularizou e precisa estar presente no dia a dia de ensino.
A reflexão crítica também é outro aspecto fundamental. Para além da compreensão das informações, essa habilidade também contribui na jornada de interação do jovem com o mundo digital. Ou seja, para além de consumir passivamente tantos conteúdos, a reflexão crítica ajuda na escolha de qualquer pessoa sobre como se posicionar e se comportar dentro do mundo online. Alguns exemplos são:
- Será que devo clicar nesse link?
- Esse site é seguro?
- Será que devo compartilhar essa informação?
- Como devo comentar nessa postagem?
- Será que devo informar meus dados?
- Será que os conteúdos que consumo tem me feito bem?
Portanto, essas habilidades são fundamentais para que as avaliações digitais possam inserir outros recursos. Só assim é possível garantir que o que os alunos aprendem vai estar em consonância com o que é cobrado.
Estratégias necessárias para que avaliações digitais sejam possíveis
Mas, para que essas habilidades sejam trabalhadas na prática, escolas e sistemas de ensino devem disponibilizar esses tipos de mídias aos estudantes. Afinal, como cobrar recursos como esse em um formato digital sem que os alunos tenham contato?
Inclusive, essa é uma das grandes questões ao tornar as avaliações, como o ENEM, digitais. O acesso às novas tecnologias ainda não é o ideal. Segundo a Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios Contínua, no 4º trimestre de 2019, 21,7% da população não tinha acesso à Internet no Brasil.
A mesma pesquisa revelou ainda a diferença entre alunos da escola privada e pública. Na primeira, 98,4% têm acesso à internet. Já na última, esse número cai para 83,7%.
Os desafios estruturais devem ser prioridade para que as avaliações digitais possam alcançar a maior parte dos estudantes. Mas além do acesso a computadores e o ensino prático da utilização dessas ferramentas, as empresas de educação precisam se preparar para uma transição do material didático.
Afinal, para que os alunos consigam manusear diferentes recursos em provas digitais, é preciso que esses materiais estejam à sua disposição no dia a dia. Mas é importante destacar que os objetos digitais de aprendizagem devem estar aliados a uma boa estratégia pedagógica. Abaixo você confere algumas:
Alinhado ao material didático
Disponibilizar objetos digitais de aprendizagem que estejam de acordo com o material didático é um dos primeiros passos para potencializar o uso pelos estudantes. Isso significa dar a eles outros meios de compreensão daquele conteúdo, explorando os formatos de acordo com a faixa etária, objetivo e até o tipo de conteúdo.
A integração do impresso com o digital de forma simplificada e clara consegue trazer para o dia a dia de aula o acesso a recursos digitais, como vídeos, infográficos e objetos interativos. Tudo isso com o objetivo de fazer com o que o estudante possa ter mais contato com esses materiais digitais e possa não somente se preparar para avaliações digitais, mas também para uma vida cada vez mais digital.
Já falamos aqui da importância de alinhar os objetos digitais de aprendizagem ao material didático. No post, deixamos dicas importantes! Não deixe de conferir.
Utilização por professores
Se os alunos precisam ser ensinados sobre o manuseio, as habilidades, entre outros aspectos para saberem viver em um mundo cada vez mais digital, é preciso que alguém os ensine. Não existe educação digital sem os professores. E, aliás, eles são capazes de influenciar até o engajamento dos estudantes com conteúdos digitais.
Portanto, os materiais digitais precisam ser feitos também pensando em como os professores poderão adicionar em sua rotina de ensino. Afinal, são eles que ajudarão no desenvolvimento das habilidades que citamos anteriormente. Por isso, se faz extremamente necessária a utilização ativa dos educadores.
Incentivo a autonomia
Os recursos digitais devem ser uma porta de entrada para incentivar a autonomia dos estudantes. Afinal, na hora da prova, ele vai precisar manusear, interpretar e encontrar a resposta sozinho. Mas não só isso, a autonomia também é o caminho para que os alunos saibam colocar em prática habilidades que citamos anteriormente na sua realidade cada vez mais digital.
Portanto, para que avaliações, como o ENEM tornem-se digitais, é fundamental o investimento em estrutura, material didáticos com recursos digitais e aprendizagem de habilidades necessárias ao mundo digital.
Dessa forma, o que o aluno aprende em sala de aula entra em consonância com aquilo que será cobrado, além de prepará-lo para uma realidade cada vez mais digital.