Você tem a sensação de que não consegue acompanhar as evoluções e novidades tecnológicas? O mundo se digitalizou muito rápido e não nos deu o tempo necessário para aprender as habilidades técnicas e cognitivas para viver em uma sociedade digitalizada. Diante desse contexto, as pessoas se encontram em páginas diferentes no que diz respeito ao domínio das ferramentas digitais. E, sabendo disso, vemos crescer a importância de colocar em prática a alfabetização digital dentro das escolas desde cedo.
O conceito de alfabetização digital se popularizou nos anos 90, logo no momento onde a Internet e as Tecnologias da Informação e Comunicação adentravam mais a vida dos cidadãos comuns. Inicialmente com o especialista em Tecnologia, Paul Gilster, que lançou um livro apenas sobre o assunto. Nele, o autor define o letramento digital como “a habilidade de entender e usar as informações provenientes de diversas fontes digitais.”
Com a evolução (rápida) do contexto digital em nossa realidade, a alfabetização digital torna-se cada vez mais necessária e até fundamental para uma boa vivência das pessoas em sociedade pelos próximos anos. Afinal, as tecnologias tornaram-se também um meio de interação com o mundo. Portanto, todo o ecossistema educacional deve se empenhar em tornar o letramento digital uma prática do dia a dia.
Apesar de não ser uma tarefa simples, os dados já nos mostram a importância e a atenção que esse assunto deve ter.
Alfabetização digital no Brasil
No relatório “The Inclusive Internet Index 2019”, elaborado pela revista britânica The Economiste, o Brasil ocupa 66º posição no que diz respeito a alfabetização digital em uma ranking de 100 países. No ano seguinte à publicação da pesquisa, todo o mundo precisou migrar o trabalho, o ensino e outros processos para o digital para respeitar o isolamento social. Pudemos ver na prática as consequências da falta da alfabetização digital.
Mas quais são os impasses para concretizar o letramento digital no Brasil?
O primeiro é o acesso às tecnologias e a internet. Por exemplo, 90% das casas da classe D e E conectam-se com a Internet somente pelo celular. Além disso, no contexto escolar, há grandes disparidades entre o ensino público e privado. Apenas 32% das escolas públicas do ensino fundamental têm acesso à internet para os alunos. Nas escolas públicas para ensino médio, essa taxa chega a 65%.
Mas além de aspectos estruturais, existem ainda impasses pedagógicos. Afinal, para que os alunos possam ser ensinados é necessário que haja educadores preparados. Segundo o TIC Educação 2016, 54% dos professores não cursaram na graduação disciplina específica sobre como usar computador e internet em atividades com os alunos. Ou seja, para que a alfabetização digital possa ser realidade não basta investimento em tecnologias, mas também uma atualização da formação dos professores. Assim, para que eles saiam preparados para essa realidade.
Essa preparação dos educadores é fundamental, pois muitas vezes caímos no erro de achar que os estudantes dominam as tecnologias por serem nativos digitais. Mas, na verdade, isso não tem nada a ver. Pelo contrário, o uso excessivo das TICs sem o domínio das habilidades necessárias pode trazer muitos malefícios a toda a sociedade.
A seguir, veja quais os principais focos de atenção quando falamos de alfabetização digital:
Aprendizados técnicos
Um dos pontos mais “visíveis” dentro da alfabetização digital são as necessidades técnicas exigidas. Desde aspectos mais simples, como “ligar o computador/celular” até aspectos importantes para a construção da vida profissional, como “enviar e-mails”.
Dentro do contexto do ensino básico, é essencial que disciplinas voltadas para o aprendizado da informática existam. Desse modo, direcionando os estudantes sobre as habilidades que eles precisam ter ao longo de suas vidas. Além disso, melhor e mais bem aproveitado são esses aprendizados técnicos quando se ligam às vivências dos estudantes em seu dia a dia.
Um bom exemplo disso é ensinar a mexer em planilhas contextualizando com os assuntos de matemática vistos em sala. Ou aprender sobre programação construindo uma plataforma relacionada a algum assunto de seu interesse, etc.
É importante pré-definir quais serão os recursos ensinados, assim definindo quais são as habilidades básicas que um jovem precisa ter ao sair da escola. Do mesmo jeito que acontece com a alfabetização comum, definir metas do que se espera ser alcançado também é importante.
Habilidades mais subjetivas
Mas além de aprender o técnico, é preciso aprender o campo mais subjetivo dessa alfabetização. Afinal, quando falamos de letramento, não nos referimos apenas a junção de letras que formam palavras, frases e textos. Muito além disso, falamos da compreensão, interpretação e o que vem depois da leitura. No campo do digital, é do mesmo jeito, e os impactos de não desenvolvermos essas habilidades podem ser perigosos.
Portanto, outro foco de atenção da alfabetização digital deve ser o desenvolvimento das habilidades de leitura, reflexão crítica, interpretação e até a tomada de decisão.
Como falamos acima, as tecnologias passam a ser também uma maneira de interagir com a realidade. Desse modo, nós também precisamos aprender como essas interações acontecem. Receber e dar informações; interpretar notícias e opiniões; identificar e distinguir notícias falsas das verdadeiras; saber quais são as regras e os limites do uso da internet e nossa interação com ela; refletir sobre os próprios posicionamentos dentro da rede são alguns exemplos de como é importante discutir habilidades subjetivas para que o letramento digital seja completo.
Além das redes sociais
Uma outra reflexão importante é: como os alunos têm usado a internet? Se você respondeu pensando somente nas redes sociais, precisamos ligar um sinal de alerta. Não que o uso das mídias sociais seja ruim. De certa forma, ele também traz seus aprendizados quando pensamos, por exemplo, em como os jovens aprenderam a manusear ferramentas. Mas a Internet não é só isso.
E por que é tão importante levantarmos essa discussão quando falamos de alfabetização digital? Porque é preciso incentivar a autonomia no uso das novas tecnologias. Isso significa ter o domínio da ferramenta e usá-la de acordo com suas necessidades, sendo um agente ativo. Ao contrário, caímos no risco de seguir apenas uma lógica criada para nos entreter e prender o maior tempo possível dentro das mídias sociais.
Ter autonomia significa definir os limites de consumo das redes sociais; saber onde encontrar as informações necessárias; estar consciente sobre sua contribuição no mundo digital (esclarecer o perigo de compartilhar fake news, por exemplo); estar ciente sobre tudo o que a Internet pode oferecer para melhorar seu dia a dia e usar de maneira consciente.
Por fim, espero que esse artigo tenha te ajudado a entender mais os principais pontos que envolvem a alfabetização digital. O trabalho para fazê-la parte do dia a dia escolar é colaborativo e só funciona com ajuda de todos. Até a próxima!